quinta-feira, 22 de setembro de 2011

DIÁRIO DE GREVE: UM GRANDE DESABAFO



Li e reli uma série de reportagens  e posts na Internet. Li ata da reunião entre representantes da categoria dos professores e o governador Cid Gomes. Bem como li o texto no site do sindicato APEOC.  A proposta, praticamente explícita na Ata, é de aplicação da mensagem com a proposta inicial do governo (aquela chamada "Maldita") para a Assembléia Legislativa. Para assim, que a Lei do Piso seja aplicada aos duzentos e cinqüenta (250) professores de nível "Ensino Médio" do estado do Ceará. Detalhe, nós, professores, independente do “título”, somos quase trinta mil (30.000), segundo dados da própria SEDUC. Mas deixando isso de lado, voltemos à parte interessante...


E ao aplicar a Lei do Piso, como proposto acima , o governador Cid Gomes estaria automaticamente se isentando de compromissos legais, em relação a uma possível adequação do PCCS da categoria. Quer seja PCCS e/ou 1/3 de redução da carga horária para planejamento. Ainda manteria/criaria uma divisão forçada entre a categoria. Como se houve professor, como tem leite: tipo A, B, C, Desnatado e Integral. Não somos mercadoria. Somos categoria. Pelo que li e dos relatos de alguns, estaríamos entrando em uma situação pior do que quando começamos.


Independente de qualquer que seja a decisão da categoria, não podemos deixar que o governo envie a mensagem para aplicação da Lei do Piso para professor de nível Médio. Se permitirmos, estaremos acabados. Será milhares de vezes pior que os maiores temores. Pois se sua “bondosa proposta” for enviada à Assembléia Legislativa, aí sim, ele "terá aplicado a Lei do Piso" e não terá "obrigação alguma" com a "formatação de uma proposta" para o nosso PCCS. Ao meu ver, generalizando por um prisma muito positivo, é que a argumentação dos que defendem a suspensão se baseia em três sentimentos: medo, decepção e solidariedade. Medo das ameaças do governo. Decepção pelo sentimento de traição que paira sobre a categoria. Solidariedade pelos professores em contrato temporário, que sofrem, sofreram, e sofrerão forte assédio moral.


Não podemos voltar como cães vira-latas, assustados com qualquer "barulho". Mas temos que usar a inteligência e a serenidade. Muito bonito para aqueles que dizem que nós, professores, é que temos que ceder. E o governo? Não cumpre uma Lei federal. Não respeita o STF. Não respeita a categoria que fortalece toda e qualquer sociedade. Não respeita a própria sociedade que o elegeu. Este governo não pode ceder nada? Pelo menos isso, temos que ter certo, não podemos desistir, da redução do 1/3 para planejamento.  Aplicado Já! Ora, a "proposta sobre o 1/3”, é para que este tenha inicio em 2012, e de forma progressiva. Reduzirá inicialmente em 2012, mas não em 1/3. Hoje temos redução de 1/5, digamos que a proposta fosse de 1/4, e sabe-se lá quando a de 1/3. "Paulatinamente do que nunca existir"? E qual seria uma sugestão viável? É quase como se um lutador de boxe pedisse para o outro não machucá-lo muito, só um pouco.


Lembrem-se: A proposta do governo é aplicar o 1/3 gradativamente a partir de 2012. A nossa categoria está esperando pela aplicação da Lei do Piso desde 16 de julho de 2008. Muito tempo para que o governo se adequasse tanto em questão orçamentária quanto ao quesito quadro de funcionários. Ele espera que desistamos da única Lei que surgiu para nos "amparar", quanto a décadas de desvalorização e desrespeito. O que acontece com Cid hoje, é um reflexo do que aconteceu com Tasso em 1986, quando enviou uma carta à categoria dos professores, pedindo apoio para as eleições do governo do Ceará daquele ano. Ele "prometia" mudanças profundas, crescimento e valorização. O que houve foi justamente o contrário. E hoje, o que vejo, é uma propaganda melosa para a mídia e eleitoreira tanto para o mesmo quanto para seus correligionários. Por isso defendo pelo menos o 1/3. Entendo as dificuldades administrativas, mas e a questão moral? É tudo em vão?


Se a proposta do governador, da aplicação imediata for consolidada, podemos ter certeza que a "proposta maldita", inicial do governo, retornará com força total. Isto é, seremos forçados a engoli-la. A referência que fiz do Tasso e dos professores em 1986 foi retirada do livro A História do Sindicato APEOC. Detalhe, o livro é distribuído gratuitamente para a categoria!


Nós podemos recuar, mas não cair em contos da carochinha. A reflexão que podemos fazer é que Cid está preocupado com a repercussão da nossa luta e nossa fala de que ele é quem está ILEGAL. Então veio com “essa de garantir que estará legal”, ao aplicar o piso imediatamente para o nível médio com a garantia de que discutirá nos 30 dias um PCCS único e o enviará para a assembléia para substituir o primeiro. Alô? Que garantia é essa?!?!? Alguém viu ela por aí, pois aqui não tem nada. Agora, realmente é difícil aceitar isso e acreditar em Cid Gomes. Mas ainda acho que vale a pena aguardar esses 30 dias e ver. Devemos tornar público para toda a sociedade o conteúdo dessa ATA e dizer que ele fez essas promessas.


Quanto a nossa Assembléia Geral, temos que apresentar propostas concretas. As pessoas que falarem amanhã, terão que parar de ouvir o som da própria voz, e começar a ouvir realmente a voz da categoria. Não podemos aceitar a desvinculação dos professores de nível médio e de nível superior. SOMOS TODOS PROFESSORES, e não calçados para sermos pisados, gastos e descartados. Vou aumentar minha proposta anterior com o que disse agora há pouco. A categoria unida em seus diversos níveis e a aplicação do 1/3.


Já abriremos mão de muita coisa com a possível suspensão da greve. Temos que ter calendário de mobilizações. 1 - Zonais uma vez por semana, alternando-se os dias e os turnos para contemplarem grande parte da categoria. 2 - Assembléias Gerais quinzenais e pré-agendadas. 3 - Retorno às aulas em Operação Tartaruga, com a redução de 15 minutos de cada aula para lembrar-lhes da implementação do 1/3. Esses três pontos, propostas iniciais, com a duração até o fim das negociações.


Pode ter certeza que seus temores e dúvidas são compartilhados por milhares de nós. Feliz ou infelizmente, prefiro me preparar para o pior, pois o que vier diferente disso, nós conseguiremos superar. Minha preocupação reside em se mantivermos a greve amanhã e houver um esvaziamento em massa subsequente, de forma progressiva, nos dias seguintes. Se isso ocorrer, retornaríamos de forma esfacelada. Caso venhamos a suspender a greve, que seja mantendo uma estratégia de mobilizações, com atividades e/ou paralisações pontuais, talvez nosso poder de mobilização volte a se fortalecer, até atraindo aqueles companheiros que estão em casa, ausentes nas nossas mobilizações. Vejam bem, tudo são hipóteses. Daí as dúvidas. Hoje em dia, as pessoas estão desistindo de serem professores. Quer sejam as condições de trabalho, o salário, o governo... Aqueles que desistiram, tiveram sua justificativa. As nossas ações hoje é que irão dizer como será a educação no estado no futuro. A categoria dos professores vem sido massacrada e perseguida em todo o país. E mesmo assim, a exemplo de nossa greve, de Minas Gerais, de Santa Catarina e do Rio de Janeiro, outros estados criaram coragem e iniciaram suas mobilizações. Hoje mesmo o Pará anunciou o inicio da sua greve.


Não defendo greve pela greve. Tenho pequena, mas coerente, ciência das dificuldades administrativas e orçamentárias (o governo do estado teve desde 16/07/2008 para se preparar para a aplicação da Lei do Piso), ou sejam de pessoal. Mas abrir mão da Lei do Piso e da redução de 1/3 é abrir mão dos direitos que a nossa categoria reivindicam há décadas. É abrir mão da dignidade daqueles que fazem a luta em sala. Daqueles que trabalham em escolas sucateadas, sem a mínima estrutura, mas que dão suas aulas com gosto e coragem, pois acreditam que fazem a diferença. Só eu sei o quanto estou cansado, o que fiz e do que tive que abrir mão por esta greve. Mas não foi por esta greve, foi por mim, pela minha família, pelos meus alunos e seus pais que me respeitam e apóiam. Sem esses gigantes para me deixarem tomar apoio em seus ombros, não teria nem participado. Mas aqui estou. Cansado, mas não vencido. Nenhum de nós pode sair com sentimento de derrota. Ou, como diria Che Guevara, que venha derrota após derrota, até a vitória. Quando as aulas retornarem, vou mostrar a todos os meus alunos, os vídeos de milhares de professores, bravos lutadores do nosso Ceará e do Brasil a fora.


Respeito suas idéias e compreendo. Mas também defendo o que acredito. Mesmo que a nossa greve seja suspensa amanhã, sairemos de cabeça erguida. Se isso ocorrer, será suspensa por nós. Não pelo governo ou pela APEOC. A nossa maior vitória, nessa greve histórica, tem sido o nosso poder de mobilização, que tem superado, de longe, a greve de 2009. E olhe que tem muitos colegas nossos que não tem participado ativamente dos zonais, assembléias e outros eventos ligados ao nosso movimento.


Esta nossa conversa é um grande desabafo. Desabafo de pessoas que vivenciam essa nossa realidade de greve dos seus próprios prismas. E mesmo assim, temos o mesmo objetivo. Por mais que ainda não seja unânime, o recuo se fará necessário, mas que nós realmente saibamos aproveitar o momento. Nos auto-avaliarmos, unirmos mais ainda aos colegas das nossas escolas, funcionários, pais e alunos, principalmente. Dar a nossa versão dos fatos, e não só a versão que o governo mostra através dos meios de comunicação. Sem demagogia, estou tendo uma satisfação enorme por ter esse debate com vocês. Pelo menos por isso, obrigado. E é sincero.


Pode ter certeza de que concordo com você. Estamos em um beco sem saída. Por isso mesmo que precisamos de "Sugestões!?!?!?!". No meio de conversas como essa daqui, é que surgem idéias que podem realmente nos ajudar.




Este texto foi criado com base nas minhas postagens e de outros professores no Facebook durante uma discussão saudável com outros professores, igualmente ou mais preocupados com tudo que vem acontecendo. Temos que continuar acreditando na nossa luta. Agradeço especialmente à Joseane Nunes, José Aldeci, Wagner Santana, Lenice Sena, Cibele Monteiro, Anna Carmen que compartilharam desse importante momento comigo e a todos os demais, que como você, tiveram a paciência e o carinho de ler até o final deste texto.




Cordialmente,


Professor Joaquim Veridiano
Cansado, mas não vencido!



TEXTOS SOBRE O ENCONTRO COM O GOVERNADOR CID GOMES:


CID PROPÕE PAGAMENTO DO PISO E PROFESSORES ANALISAM PROPOSTA


CID GOMES REABRE NEGOCIAÇÕES COM PROFESSORES ESTADUAIS


APÓS REUNIÃO COM CID, PROFESSORES ESTADUAIS DECIDEM NESTA SEXTA SE GREVE CHEGA AO FIM


CID PROPÕE PAGAMENTO DO PISO E PROFESSORES ANALISAM PROPOSTA


APÓS REUNIÃO COM PROFESSORES, CID GOMES DIZ QUE SÓ RETOMA NEGOCIAÇÕES APÓS SUSPENSÃO DA GREVE


APÓS REUNIÃO COM CID, PROFESSORES ESTADUAIS DECIDEM NESTA SEXTA SE GREVE CHEGA AO FIM


ATA DA REUNIÃO DO COMANDO DE GREVE DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA ESTADUAL COM O GOVERNADOR DO ESTADO E PRESIDENIE DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA


GOVERNO DO CE LANÇA NOVA PROPOSTA A PROFESSORES EM GREVE HÁ 49 DIAS


ATA DA REUNIÃO DO COMANDO DE GREVE COM O GOVERNADOR

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Zonal da 3ª Região

À vitória da greve!

Um comentário:

  1. Minha unica conquista garantida até agora com essa greve foi uma gastrite.

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