terça-feira, 6 de setembro de 2011

COMANDO DE GREVE por Prof. Robson

Relato pessoal da reunião do Comando do dia 05.09.2011.

Avança o Parlamentarismo Sindical em detrimento da luta do Magistério Estadual

A luta do magistério estadual vem dando exemplo de luta para várias categorias neste estado e, quiçá, no Brasil. Um avanço que há muito tempo não se via, de manifestações massivas e ampla organização de base. Esse relato tem como fundamento o respeito a todos os zonais (pulmões de luta) que de forma excepcional vem dando fôlego a este movimento de valorização da Educação Pública.

É preciso antes de tudo fazer a crítica do termo “parlamentarismo” utilizado no título. Esse termo será aqui utilizado com uma reprodução no movimento sindical do famigerado parlamento burguês, onde os ditos “representantes do povo” utilizam o parlamento para esmagar aqueles e aquelas que lá os colocaram, representando somente seus próprios interesses em detrimento do povo.

No movimento sindical isso também é uma realidade e para isso veremos como exemplo o relato da última reunião (05.09.2011) do Comando de Greve da Região Metropolitana. Lá, existem não somente os representantes de zonais delegados para representarem seus zonais, mas também um emaranhado de forças políticas, o que é normal, mas que não raro tentam conduzir o processo de acordo com suas predileções políticas nitidamente vanguardistas. Ou seja, não necessariamente respeitam as decisões tomadas nos zonais e fazem a luta do seu modo, de acordo com as disputas internas das organizações políticas sobressaltadas às lutas da categoria. Ontem tivemos um “bom” exemplo (que é um “mau” exemplo para a classe trabalhadora) de como isso funciona.
Decretada a permanência da luta na nossa última assembléia (02), o objetivo principal desta última era organizar a luta desta semana. Mas não foi o que ocorreu. Pra se ter uma idéia nenhum ponto vindo dos zonais foi deliberado (como fundo de greve, assembléias em locais abertos...). Ou seja, todos os zonais levaram seus encaminhamentos e nada foi encaminhado. Tudo isso finamente arranjado por meio principalmente de uma disputa pela localização do nosso próximo ato (do 7 de setembro). Um arranjo onde quem saiu perdendo foi a categoria que se empenha nos zonais para avançar na luta.

Para se entender bem a história:

Todos os zonais levaram a proposta de realização do ato durante a parada militar do 7 de setembro. A iniciativa, até onde lembro da discussão do nosso zonal, teria como foco uma maior publicização de nosso movimento, já que lá estariam representantes do governo, mídia de todos os tipos e está sendo aguardado um número imenso de pessoas durante o desfile. A direção da APEOC logo colocou seu posicionamento contrário a todos os zonais e disse que não se responsabilizaria pela manifestação. Argumentou ainda que era pela falta de segurança e que havia grupos que estavam planejando ações mais radicais, mas não disse quais eram (o que invalida o seu argumento, pelo menos para mim). Ou seja, mera desculpa para desviar do desfile militar. Disse que o ato deveria ser no Grito dos Excluídos, que será realizado no Lagamar.

Diante de tal discussão aconteceu um acirramento entre os representantes do Comando com a Direção, já que boa tarde deles(as) estavam justamente defendendo o encaminhamento do seu zonal (que nosso ato deveria acontecer no desfile militar). Em certo momento da discussão, enquanto os representantes do comando pressionavam a Direção Sindical para que esta respeitasse as deliberações dos zonais, a representante da Conlutas defendeu abertamente a direção na discussão e uma proposta de “consenso”, mesmo contra a deliberação de todos os zonais, que seria um ato paralelo ao desfile (portanto, nem na parada militar nem no Grito dos Excluídos), e que não tocasse em nenhum momento no desfile militar. Essa proposta me indignou bastante e vários dos presentes porque ficou claro, para muitos que lá estavam, que era um acordo político entre as centrais sindicais que disputam o nosso movimento. Ficou muito claro porque a Conlutas, ao invés de defender a decisão de toda a categoria, juntos com todos os zonais, foi puramente oportunista em se aliar a direção “cutista”. Pior, todos se voltaram contra mim e alguns companheiros, porque disseram que estávamos “rachando” – na linguagem política significa dividir e/ou “quebrar” – o comando e a greve. Mas ora, eu estou rachando o comando? O fato de eu e outros defenderem o posicionamento dos nossos zonais contra a Direção Sindical + Conlutas que defendem outra coisa? Quem racha o movimento não pode ser quem quer defender as decisões dos zonais, que traz as opiniões da base, daqueles que fazem a maior luta nesta greve, tal seja o embate nas escolas e discutem politicamente os rumos da luta nos zonais. Quem racharia seria a direção sindical, apoiada pela Conlutas, que estavam contrariando todos os zonais presentes. Mas a meu ver e de alguns colegas que conversei no final da reunião, isso (essa coisa de “racha” do Comando) não passou de discurso, já que a direção sindical não deixaria a greve por essa discussão e desrespeitando os zonais, porque eles querem terminar “por cima”.

O que estava em jogo lá na reunião era simplesmente uma coisa: o papel do Representante de Base e membro do Comando. Em primeiro lugar, vários representantes do Comando que representam as forças políticas entendem que o Comando é a vanguarda do movimento, é a “parte pensante” (como já ouvi de um membro da Conlutas durante o último ato na Assembléia Legislativa, como pensa várias outras forças políticas lá representadas e, de outro modo, de membros da própria direção da APEOC). Eu não aceito isso e creio que a categoria deve se sentir ofendida por esse discurso que a coloca como “boiada”, que sai sendo guiada por onde a “vanguarda” quer. É lamentável que em uma luta difícil, mas que já avançou bastante, tenhamos que lutar contra correntes políticas dentro do movimento, quando estas, por obrigação política e moral, deveriam estar do nosso lado e pensando menos em seus interesses politiqueiros. Em segundo lugar uma postura mais pessoal do que de representante tem minado o Comando. Não estamos, pelos menos na teoria e deveria ser na prática, em um parlamento. O Representante de Base não pode ir lá e representar, como um deputado na assembléia, seus próprios interesses (ou os interesses de seu partido). O representante representa o zonal! Pode parecer redundante mais não é. Muitos não fazem isso e ontem foi apenas mais um exemplo. Em vez de fazer a leitura e comentar as decisões do zonal. Muitos vão lá e falam o que seu grupo defende. Não se pode aceitar que um representante chegue na reunião do Comando e faça um discurso contra o seu zonal, contra um encaminhamento do zonal, isso é muito grave, pois qual representação está havendo? É um momento delicado e gostaria que todos estivessem de olho em como essa representação está se dando. A função do representante é ser uma linha de transmissão entre o que sai do zonal para o comando e do comando para o zonal. Não se pode dizer o que se quer. É uma questão política, mas também de respeito com todos que passaram horas discutindo. Eu defendi não uma posição pessoal, até porque pra mim era importante “ter” o ato, mas a posição de todos os zonais que defenderam uma coisa e se costurou entre as forças políticas uma posição que negava tudo que foi debatido nos zonais.

Antes que os politiqueiros de plantão se exaltem com minha postura como lá o fizeram, aqui não existe um esforço para fragmentar luta nenhuma. Pelo contrário é um esforço ético de respeito com meus colegas que estão em sala de aula cotidianamente e saíram brevemente em greve para se embrenhar em uma luta que não pode e nem deve se diluir em apenas mais uma picuinha e conchavos das auto-intituladas “vanguardas” do movimento. A hora agora não é de dividir mais de avançar na luta. E para isso é necessário colocar os interesses da categoria, contra o governo CID e seu projeto de destruição da nossa carreira. É hora também de enxergando esse problema, mas dar mais força a luta. Doar um pouco mais de energia para avançarmos!

Para finalizar: fica-se definido o ato paralelo, desrespeitando todos os zonais. Um arranjo político feito acima da luta de nossa categoria e que devemos lembrar para que nos próximos passos estejamos atentos, contra a politicagem (o que não quer dizer sem política do movimento, obviamente) de todas as centrais que retiram o protagonismo de nosso luta, que é de todos os(as) professores(as) organizados e valentes, que permanecem de pé.

Robson Alves: Professor da Escola Antonieta Siqueira, membro do Comando pela Regional III.

Abaixo lista dos representantes que respeitaram seus zonais, defenderam seus encaminhamentos e que pediram o registro do voto contrário ao chamado “consenso” da Direção + Conlutas:
Regional 1: Zonal Flávio Marcílio (Renan*)
Regional 2: Zonal Mathias Beck (Sombra)
Regional 3: Zonal Mariano Martins (Robson)
Regional 5: Zonal Otávio de Freitas (Rafael)
Regional 5: Zonal Conjunto Ceará (Sidney)
Regional 5: Zonal Michelson (Carol)
Regional 5: Zonal Conjunto Esperança (Luiz)
Regional 6: Zonal Liceu Messejana (Sarah e Macarrão)

*Está registrado nominalmente porque alguns representantes do mesmo zonal votaram contra o seu zonal.

** Para ser justo com vários companheiros do Comando, é preciso dizer que nem todos que não estão aqui listados votaram contra seu zonal, já que muitos não estavam lá, por não ter ido ou por ter saído mais cedo.

Avante a Luta dos Professores da Rede Estadual!

Rumo ao Grande Ato do 7 de Setembro contra a Destruição do Magistério Estadual!

2 comentários:

  1. Prof. Fabrício Pstu

    Comentário do Facebook: 6 de setembro de 2011

    1º: O Fórum que representa os anseios da categoria e é "sagrado" que seus encaminhamentos sejam postos em prática é a assembleia Geral, os zonais da Região Metropolitana DEVEM ENCAMINHAR suas propostas e o sindicato deve acatar, mas não representam todo o Estado. Quem passa por cima das decisões da BASE é a direção da APEOC, que divulga e estimula cidades do interior a encerarem a greve à revelia do que foi tirado na Assembleia soberana.

    2º: Sem a unidade entre professores e Sindicato, a GREVE SERIA ABORTADA. das duas uma: ou a diretoria do sindicato implodia a reunião do comando e chamava em seu site um ato TOTALMENTE DESCOLADO do desfile militar e das "autoridades" ou iríamos para o desfile SEM O SINDICATO e isso daria razão para que eles ABANDONASSEM POR COMPLETO A GREVE, dando munição para que este chamasse os lutadores de "radicalóides" e iriam na imprensa dizer que o sindicato não respondia pelo movimento. (um desastre, POIS NÃO ARRANCARÍAMOS MAIS NADA DO GOVERNO POR ESTE NOTAR QUE ESTARÍAMOS SIMETRICAMENTE DIVIDIDOS.)

    3º: O fato de fazermos uma GRANDE MARCHA PARALELA impactará bastante na população q estará lá e na mídia quase com a mesma (se não a mesma) proporção de um ato no desfile. A questão de segurança TAMBÉM CONTA. Não podemos banalizar o confronto físico, ele só é necessário no último momento, convenhamos que um ato dentro do desfile poderia soar como provocação para os militares.

    4º: Não sei por que a razão do Robson Alves querer fazer do copo d"agua uma tempestade, a divergência no final da reunião (Ato dentro do desfile X Ato paralelo ao desfile) não expressa uma briga de partidos ou centrais cara, essa polêmica era por um simples detalhe, o problema é que SE NÃO HOUVESSE ESSE ACORDO NÃO OCORRERIA ATO ALGUM, bater o pé com algo menor só ajudaria a Direção da APEOC a derrotar o movimento.

    5º: Mesmo sendo algo tático, vc coloca como se a gente não tivesse levado a proposta do zonal (desonestidade de sua parte), DEFENDEMOS SIM, o problema é que o sindicato (O Grande culpado por tusso isso) PASSOU POR CIMA E NÃO QUERIA ENCAMINHAR, RESULTADO: Ou era esse ato paralelo OU A REUNIÃO TINHA IMPLODIDO e não teríamos ato algum.

    Não é excluindo nossa entidade representativa que sermos vitoriosos, temos de ter um mínimo de unidade para pressionar os caras a LUTAR EM DEFESA DA CATEGORIA.

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  2. Prof. Filipe


    Robson, sinto-me bantante respaldado por suas palavras.

    Essas pessoas que se acham a "parte pensante da greve" deveriam relembrar o fim do mito de Narciso que, apaixonado por sua face, se joga ao reflexo de sua imagem e acaba se afogando. Não serão essas pessoas a representação do mito contemporâneo? É o que vejo: puro narcisismo. Daqui a pouco, essas pessoas, vão ficar gravando e ouvindo incessantemente suas lindas palavras, seus mais nobres pensamentos.

    Nós que fazemos as zonais é que construímos essa greve. Não precisamos distorcer informações a fim de manobrar voto em assembleia. Tampouco, precisamos levantar bandeiras e escondermo-nos atrás delas. Sempre vamos com nossas faces abertas.

    Força, professores e professoras. Façamos, amanhã, um inesquecível ato.

    Abraços.

    Filipe

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