quinta-feira, 1 de setembro de 2011

DIÁRIO DE GREVE: ROSA DE HIROSHIMA

"PENSEM NAS CRIANÇAS"

Parecia uma manhã, como qualquer outra manhã. Mas não era uma manhã qualquer. Pelos menos, não para os mais de dez mil manifestantes que caminhavam e cantavam seu brado. Pais, alunos, professores e sociedade. Movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos, organizações estudantis e solidários à causa. Um momento ímpar. Se tivesse que ser um número, seria primo. Indivisível, a não ser por ele mesmo. O próprio dois seria adequado, apesar do mesmo ser par, já que foi a segunda manifestação na Assembléia Legislativa. Durante a caminhada e depois da chegada, me senti eufórico. Parecia que o ar estava carregado de eletricidade. Todos estavam conectados, transcendendo a realidade que nos cercava.

"ROTAS ALTERADAS"

De repente aquela energia é cortada. Faz-se o anúncio de que era necessária a presença do Comando de Greve, pois havia de iniciado um conflito no hall do plenário. Estudantes e professores estavam sendo agredidos. A maior manifestação dos profissionais da educação na história do Ceará. Uma caminhada unificada de vários setores e categorias, unificados com professores, estudantes e sociedade. Um protesto pacífico. Mas pelo grande contingente de pessoas, o clima ficou tenso. De repente começou um conflito na entrada do plenário. Não souberam precisar o seu início. Os policiais começaram a agredir as pessoas, provavelmente para tentar impedir o acesso ao plenário. Mas tenho certeza de que haviam outas formas, e não a agressão física. A maioria dos veículos de comunicação divulga apenas os transtornos da nossa manifestação e não as causas. Mas mesmo assim, muitos tentam e alguns acabam sendo ouvidos. A nossa luta ganha voz, ou texto. Mas deixa de ser só nossa, e se torna  do mundo. Um grito por socorro.

"PENSEM NAS FERIDAS"

Sim, socorro. A greve tem esse significado para a maioria de nós. Pais, filhos, trabalhadores que querem apenas que seu direito seja respeitado. Que uma lei seja cumprida. Mesmo sem ser ideal, ela nos ampara. Não podemos e não iremos abrir mãos dos nossos direitos. Quando avançamos Assembléia a dentro ou acampados do lado de fora, lutamos. Um luta por vezes austera, por vezes tímida. Mas implacável. Um surpreendente multidão, uma verdadeira legião de guerreiro, gritava o nosso brado. Defendia a nossa bandeira. Dava eco a nossa voz. Destemidos. Temíveis, mas não terríveis. Só pedindo. Só retribuindo.

"MAS, OH, NÃO SE ESQUEÇAM"

Uma caminhada. Faixas. Cartazes. Palavras de ordem.Uma busca. Um pedido de apoio aos deputados, representantes do povo, para que fizessem exatamente isso. Representassem o povo. Um categoria cansada. Uma categoria honrada, mas mal tratada. Surpreendido pela polícia. Mas não uma polícia qualquer. O batalhão de choque. Após um encontro turbulento, uma barreira é montada. Uma trincheira. Para enfrentar pais, alunos e estudantes? Necessário? Justo? Tire suas conclusões. Infelizmente já tenho as minhas. Em defesa de nosso direitos. Da nossa dignidade. E o que ganhamos? Tratamento VIP para criminosos de alta periculosidade. Triste e dura é a realidade. É como digo, a rapadura é doce, mas não é mole. Uma comissão da categoria e da sociedade civil é montada para um encontro com representantes do parlamento. Uma audiência para tratar de nossa causa. Da nossa Lei.

"ESTÚPIDA E INVÁLIDA"

De forma pacífica, viemos. De forma violenta, fomos recebidos. Temos muito gosto pelo que fazemos. Nosso desgosto vem da forma como temos sido tratados. Um ato justo e necessário, foi a nossa manifestação. A recepção na Assembléia reflete a política do governo para com a sociedade.

"SEM COR, SEM PERFUME"

Superamos todos os obstáculos. As pedras no caminho foram sendo recolhidas e castelos foram erguidos. A euforia do primeiro beijo se confunde com a euforia de um gol anulado. Em secreta reunião, nosso representantes estão. Secreto seu resultado, é até então. Mas e senão? E senão? Já pensaram no amanhã? O amanhã já chegou. O amanhã é hoje. E o hoje é o agora. Quem sabe faz a hora, não espera. Esperar acontecer? Ou desaparecer. Doce é o gosto da vitória. Amargo o da derrota. Nada sinto. Mas e se sentir? E senão? A pior coisa de se esperar, é justamente a espera. Pois nada mais resta, além de esperar. Muito já conquistamos. Nossos alunos. A sociedade. O nosso amor próprio. Muito ainda falta a ser conquistado. Mas com os pés no chão devemos sonhar alto. Se acordarmos do sonho, não cairemos. Mas e se cairmos, e se não? Não se iluda, ainda não alcançamos a verdadeira vitória. Mas chegaremos lá.

"SEM ROSA, SEM NADA"




Prof. Joaquim Veridiano
Inspirado nos colegas de Zonal e nos heróis da Greve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe. Contribua. Divulgue. Estamos aqui para tornar nossa luta cada vez maior. Obrigado pela colaboração.