Professores e professoras,
Só agora consegui parar um pouco para ver as fotos, os vídeos amadores e dos telejornais relacionados à violência física que sofremos nessa quinta-feira (29/09/2011). Fiz questão de ver um a um. Cada imagem mais chocante que a outra.Mas ao ver o vídeo que passava momentos após a agressão sofrida pelo colega Arivalto Alves, quando esse via seu sangue escorrer pelo seu corpo, sendo conduzido com os braços para trás por um policial, e o seu desespero dizendo “Eu to morrendo, eu to morrendo... eu vou desmaiar... eu vou desmaiar...” não mais me contive, chorei. Na mesma cena passavam os companheiros que estavam fazendo greve de fome, assustados, desesperados, pedindo a compreensão por estarem fragilizados... Em seguida um deles passa algemado. Repito ALGEMADO. Só NÃO consegui ver uma coisa naquela imagem: o crime por eles cometido. E a companheira Laura, com 60 anos de idade, passa desmaiada.
Instantes depois, Arivalto cai no chão desesperado e tira sua blusa, quebrando os botões, com o intuito de cessar o sangue.
Chorei ainda mais.
Conheço Arivalto de antes dessa greve, dos rachas de futebol de salão nos Colégios 2 de Maio e Jáder de Carvalho. E quem o conhece sabe o quão bom e inofensivo é esse trabalhador pai de família. Coloco isso só para justificar que é da pessoa dele tentar defender os amigos como ele o fez e é visível na foto do Diário do Nordeste do dia 30/09 em que ele está protegendo os grevistas de fome usando como escudo um colchão. O mesmo jornal diz que ele foi agredido ao tentar furar o bloqueio policial. Será se tentaram vender uma inverdade à sociedade cearense? Se tentaram, essa sociedade não comprou.
Diante disso meus caros, vos digo que tudo o que eu, João Paulo, e você tínhamos a perder, em termos de carreira, dignidade, respeito e reconhecimento profissional por parte do Governo do Estado, perdemos naquela data. Não temos mais nada a perder, pois a carreira para a qual prestei concurso em 2010 (Lei 11.066) está prestes a ser substituída pela lei aprovada no dia 29/09, faltando apenas ser sancionada. Precisamos nos manter nessa luta para resgatar os direitos que haviam na Lei 11.066 e aplicar na referência 01 daquela tabela, O PISO SALARIAL NACIONAL.
Temos, meus amigos, um compromisso moral e ético com Arivalto, Laura, Ronaldo, e tantos outros que ainda sequer sei o nome e talvez eles sequer saibam os nossos, mas que foram violentados na busca de se defenderem, de nos defenderem, de defender as nossas vidas, e a nossa carreira.
Por eles e por nós mesmos, não podemos sair dessa luta. Precisamos ampliá-la, chamar os olhos de toda a sociedade para o que estamos passando. Não podemos deixar que esse final de semana nos sirva de consolo e dizermos “É isso mesmo”, “Fazer o que?” e na segunda-feira, voltarmos às nossas vidas tentando esquecer o que aconteceu.
Tampouco na quarta-feira (05/10), quando completam o prazo de trinta dias da decisão liminar do Desembargador do TJ-Ce de suspender a greve, pensarmos em voltarmos às salas de aula para garantir o nosso emprego.
E se voltarmos, o que será que os nossos alunos não vão pensar ou até dizer de nós? Será se não estaremos sendo tão covardes quanto aqueles policiais que nos agrediram e nós os chamamos de covardes?
Mas se na quarta-feira, nos mantivermos firmes e juntos na luta, ele (Cid Gomes) não terá condições de abrir processo administrativo para todo mundo. Mesmo que ele queira, toda a sociedade e as entidades (OAB, CNBB, CNTE, só para citar algumas) estão ao nosso lado.
Para se ter uma idéia, um aluno meu do 8º ano de uma escola particular, diga-se de passagem, disse-me, em sala de aula, “Professor, vocês estão certos de lutar pelo direito de vocês que é a lei do piso salarial”. Foi aí que eu vi que só depois de mais de 50 dias de greve à custa de suor e sangue, a sociedade entendeu as nossas reivindicações. O mesmo aluno ainda sugeriu que a saída é pedirmos o impeachment do Governador. Talvez, ele esteja correto.
Caro colega de profissão e de luta, precisamos nos manter juntos até o fim desse massacre contra a educação e que hoje, finalmente, temos a sociedade a nosso lado. E a mesma diz “Não podemos parar agora”.
Encarecidamente,
Professores
João Paulo Benevides Lopes
Tom Jones da Silva Carneiro
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