Os professores cearenses em greve revelam um lado obscuro da educação brasileira. Fala-se muito em escola e muito pouco em professores. E pensar que a escola pública já foi referência nesse País quando o professor era um bom partido, pois contava com um salário invejável. Marido de professora gozava de status respeitável. O Brasil se industrializou, cidades enormes cresceram como cogumelos e a sociedade clamava por educação. Ampliou-se o ensino público e as redes oficiais foram se consolidando. À medida que crescia, reduzia seu prestígio.
Falar em educação era falar de inauguração de escolas e ampliação do número de matrículas, sempre com farto aparato político-partidário. Esqueciam e esquecem, na maioria das vezes, do sujeito social que tem um enorme papel na transformação da sociedade - o professor. As políticas públicas da pasta da Educação voltaram-se mais para o problemas da super lotação das salas de aula e logo, logo instituíram os três turnos nas escolas, mutilando o ensino e impondo uma sobrecarga de trabalho ao professor. Nos países desenvolvidos funciona apenas um, em escolas de tempo integral. Como sujeito histórico essencial na formação integral dos educandos, cabe ao professor, o papel de ensinar, educar e acompanhá-los para o exercício pleno da cidadania.
A forte pressão provocada pela necessidade de novas matrículas de estudantes resultou no aumento da carga horária de trabalho do professor sem o respectivo aumento do salário. Aviltado em sua nobre atividade, muitos professores preferiram e preferem mudar de profissão, muitas delas com maiores possibilidades de progressão, salários mais altos, e exigências menores.
Entretanto, para nós professores, principalmente os que exercem a profissão no ensino fundamental e médio, é necessário muita motivação e dedicação. Muitos dizem e apregoam que o magistério é sacerdócio, é sacrifício. Enganam-se os que partem desta premissa. Magistério é uma profissão que exige conhecimento, qualificação e constante atualização. Que exige dignidade e condições satisfatórias de trabalho.
Não há projeto educativo sem o professor. Não adianta tentar imitar o modelo coreano ou de qualquer outro país do mundo que tenha alcançado o desenvolvimento. São sociedades onde o professor é figura de proa. É respeitado, é querido. Para eles todas as portas são abertas sem precisar bater ou empurrar.
O diálogo faz parte do projeto educativo. A escola precisa de amigos, mas precisa muito mais de professores. E os professores exigem e merecem respeito.
José Borzacchiello da Silva, borza@secrel.com.br
Geógrafo e professor da UFCTexto extraído do O POVO Online:
http://www.opovo.com.br/app/opovo/opiniao/2011/10/05/noticiaopiniaojornal,2310225/amigo-da-escola-inimigo-do-professor.shtml
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